Linguagem de Fresta
No início dos anos 60 implantou-se, no Brasil, uma ditadura militar da
direita, enquanto que a "inteligência" brasileira brasileira pendia para
a esquerda.
Anos rebeldes, palavras de ordem, CPC, UNE, CCC, Maria Antônia, PUC, USP,Mackenzie, censura, engajamento, repressão, subversivos, MEC/USAID, subdesenvolvimento, bossa-nova, iê-iê-iê, tropicália - miscelânia que retrata nosso país num dos períodos mais conturbados de sua história.
A saída para o impasse, para driblar a censura, foi a chamada "linguagemda fresta", usada principalmente nas canções populares. Músicas, filmes,livros (ficcionais ou não), peças teatrais, enfim, a produção cultural desse período mostra um Brasil fragmentado, espoliado, subjugado, calado.
A B"anda" ( Chico Buaque )
Estava a toa na vida, o meu amor me chamou
Pra ver a banda passar, cantando coisas de amor
A minha gente sofrida, despediu-se da dor
Pra ver a banda passar, cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro, parou
O faroleiro que contava vantagens, parou
A namorada que contava as estrelas,
Parou para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada, sorriu
A rosa triste que vivia fechada, se abriu
A meninada toda se asanhou
Pra ver a banda passar, cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Qu'inda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida, surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar, cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto, o que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar, depois que a banda passou
E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor
Depois da banda pssar, cantando coisas de amor